Publicado • 26/04/25 às 01:14h
A mulher amazônica carrega em seu corpo não apenas beleza, mas a memória de um povo. Suas pinturas, feitas com urucum, jenipapo e outros elementos da floresta, são muito mais que adornos: são símbolos de identidade, resistência e conexão com a ancestralidade. Em um mundo que muitas vezes tenta apagar suas raízes, os povos originários da Amazônia seguram com orgulho os traços que os definem – e ensinam que verdadeira beleza vem da história que se carrega.
A Pele Como Página da História
Para os indígenas, o corpo é um livro aberto. Cada linha, cada ponto, cada curva desenhada na pele tem um significado profundo – pode representar alegria, luto, passagem para a vida adulta ou até mesmo a força de um animal sagrado, como a cobra ou o jabuti.
Eliene Putira, mestranda em Antropologia e presidente da Associação dos Povos Indígenas Estudantes na UFPA, explica:
“Muitas pessoas acham as pinturas bonitas, mas nem sempre elas significam felicidade. Algumas marcam tristeza, luto ou momentos de transformação. Quando me pintei com os grafismos de outro povo, senti minha perna pesar – era uma pintura de força, e eu precisaria dela.”
Mais Que Estética: Uma Linguagem de Resistência
A antropóloga Jane Beltrão reforça que as pinturas indígenas são atos políticos.
“Exibir marcas tribais é resistir ao colonialismo, ao eurocentrismo. É dizer: ‘Nós existimos, nossa cultura é viva e poderosa’.”
Essa arte não está só no corpo – está na cerâmica, nas cestarias, nos objetos do cotidiano. Cada traço é um código que fala de pertencimento, de luta e de uma relação sagrada com a terra.
A Mulher Indígena: Guardiã da Cultura
Na Amazônia, as mulheres são as grandes transmissoras desses saberes. São elas que preparam as tintas, ensinam as crianças a pintar e mantêm vivas as tradições em meio a um mundo que tenta homogenizar todas as culturas.
Omawalieni Baniwa (Eliane), uma das lideranças presentes no vídeo Grafismos Indígenas (produzido pelo Sesc Registro), compartilha:
“Nossas pinturas são como nossa língua. Se desaparecerem, perde-se parte da nossa alma.”
Por Que Isso Importa Para Todos Nós?
Num tempo de crise ambiental e cultural, os povos originários nos lembram que é possível viver em harmonia com a natureza. Suas pinturas não são apenas arte – são um chamado para repensarmos nossa relação com a Terra.
A identidade indígena é a base de uma globalização mais humana, que valoriza a diversidade em vez de apagá-la. Quando uma mulher amazônica pinta seu rosto, ela não está só se enfeitando – está contando uma história milenar, e convidando o mundo a escutar.
Como Apoiar Essa Resistência?
✔️ Valorizar artesanatos indígenas (compre diretamente de comunidades, não de imitações).
✔️ Aprender sobre as culturas originárias (vídeos, livros, eventos como o FestA! – Festival do Aprender).
✔️ Respeitar e amplificar suas vozes (em debates sobre meio ambiente, direitos humanos e educação).
A beleza da mulher amazônica não está nos padrões ocidentais – está na força de sua história, na coragem de sua resistência e na sabedoria de seus traços. Que possamos olhar para essas pinturas não como “exotismo”, mas como lições vivas de um mundo que ainda pode ser mais justo e mais belo.