Publicado • 19/05/25 às 14:35h
A XVI Mostra de Cinema Periférico (S8), um dos festivais mais importantes do cinema experimental mundial, celebra em 2025 seus 60 anos de existência com uma programação que atravessa fronteiras. Entre os destaques, está o videoclipe “Marrona Libre”, da artista Brisa Flow (de origem mapuche) e Abi Llanque, uma obra que encapsula a força identitária de comunidades andinas, negras e indígenas imigrantes no Brasil. Filmado em Super 8, 16mm e digital, o projeto é uma explosão de cores, ritmos e memórias, gravado em São Paulo – cidade que se transforma em palco de resistência e celebração para essas culturas.
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A Mostra S8: Um Palco para as Narrativas da Diáspora
Com mais de 100 filmes de 60 cineastas de países como Venezuela, Chile, México, Brasil, Senegal e Espanha, a edição 2025 da mostra amplifica vozes marginalizadas, destacando obras que desafiam formatos convencionais. “Marrona Libre” surge como um dos trabalhos mais potentes dessa seleção, não apenas por sua estética híbrida (que mescla película analógica e digital), mas por sua narrativa profundamente enraizada na experiência migrante.
“Marrona Libre”: Corpo, Terra e Memória em 3 Minutos e 32 Segundos
Dirigido por Natali Mamani & Rodrigo Sousa, o videoclipe é uma ode à resistência cultural – um registro íntimo de festas bolivianas em São Paulo, onde filhos de imigrantes aimaras, quechuas e afrodescendentes reclaimam seu espaço na metrópole. A música, composta por Brisa Flow e Abi Llanque (integrantes do projeto Janequeo), funde hip-hop, ritmos andinos e eletrônico, enquanto as imagens capturadas em Super 8 trazem uma textura onírica, quase tátil, da diáspora.
“Não se trata apenas de migração, mas de ocupação. Somos corpo-território, e ‘Marrona Libre’ é nosso manifesto visual” – Brisa Flow, em entrevista prévia ao lançamento.
São Paulo como Território Andino-Afro-Indígena
As filmagens ocorreram em locais simbólicos para a comunidade imigrante: desde a Rua Coimbra, centro do comercio boliviano em SP, o Beco do Batman, onde grafites homenageiam líderes indígenas, Pico do Jaraguá, “Apu” sagrado da cidade de São Paulo rodeado de comunidades indígenas do Jaraguá, até as festas de La Paz no bairro do Pari. A escolha do Super 8 não é acidental: o formato, historicamente associado ao cinema doméstico, é ressignificado como ferramenta de documentação política.
Por Que “Marrona Libre” é Essencial no Cinema Contemporâneo?
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Descolonização da Imagem: A obra subverte a narrativa eurocêntrica do experimentalismo, inserindo técnicas ancestrais (como teceluras andinas projetadas em sobreposição às filmagens).
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A Música como Arma: O termo “marrona” – originalmente um insulto classista e racista na América Latina – é resgatado como símbolo de orgulho, ecoando a luta das mulheres negras e indígenas.
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O Super 8 como Ponte Temporal: A película, manipulada manualmente (com riscos e granulação), dialoga com a ideia de memória viva, em contraste com a digitalização massiva.
Próximos Passos: Exibição na Galiza e Circuito Expandido
Após sua estreia na S8 (3 a 8 de junho, Coruña-Espanha), o projeto integrará uma turnê latino-americana, com exibições em festivais indígenas no México e Bolívia. No Brasil, a exibição está confirmada no Museu da Imigração de São Paulo, seguida de debate com coletivos periféricos.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Natali Mamani & Rodrigo Sousa
Música: Brisa Flow & Abi Llanque (Janequeo)
Formato: Super 8, 16mm + digital
Duração: 3’32”
Produção: Brasil, 2024
“Marrona Libre” não é apenas um videoclipe – é um ato de existência. Enquanto o cinema periférico ganha espaços globais, obras como esta lembram que a verdadeira vanguarda nasce das margens, onde corpos dissidentes escrevem suas próprias histórias.**
Marrona Libre
Natali Mamani e Rodrigo Sousa & Sousa @rodrigosousaesousa
Clara Campos e Bianca Bomfim (@espelholunarcine ), Rafael Neri @rafanerix
Yasmin Silva @yasmin_silva.y , Shamira Mamani @_srmncr_ e Serafim do Mundo
Amangelo Prateado @amangeloprateado
Bianca Bomfim e Clara (Espelho Lunar Cine)
Paulo Porucha @paulopurusha e Espelho Lunar Cine.