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Mara Xavante, integra comitê de bacia hidrográfica para defender rio sagrado de hidrelétricas

Ativista é a primeira indígena no comitê do Alto Rio das Mortes, curso d'água que seu povo chama de Owawê e considera fundamental para sua sobrevivência física e cultural.

Ativista é a primeira indígena no comitê do Alto Rio das Mortes, curso d’água que seu povo chama de Owawê e considera fundamental para sua sobrevivência física e cultural.

São Paulo • 05/09/25 às 17:04h

A ativista indígena Mara Barreto Sinhosewawe Xavante assumiu em 22 de agosto um assento no Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Rio das Mortes (CBH Alto Rio das Mortes), no estado de Mato Grosso. Ela é a primeira e única mulher indígena a compor o colegiado, eleita para um mandato de dois anos como representante da Aliança dos Povos do Roncador, da aldeia Wederã, Território Pimentel Barbosa. Seu suplente é o cacique Paulo Cipassé Xavante, gestor ambiental e professor.

Sua posse ocorre em um momento de tensão entre projetos de desenvolvimento energético e a preservação de territórios indígenas e recursos hídricos, um cenário comum em várias partes da América Latina. O comitê, que reúne poder público, sociedade civil e usuários de água, ganha uma voz diretamente ligada a um dos rios mais significativos da região para os povos originários.

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Posse do Comitê – Associação dos Agricultores de Primavera do Leste – MT – Foto – Arquivo pessoal

Para Mara Barreto, a função transcende a política ambiental convencional. Em entrevista ao BC, ela explicou que o corpo d’água conhecido como Rio das Mortes é chamado por seu povo de Owawê, que significa “rio grande”. O nome não é apenas geográfico, mas também cultural: designa um dos dois clãs que formam o povo Xavante, os Owawê e os Porezeano (girino).

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A designação “Rio das Mortes”, segundo ela, remonta a conflitos históricos. “O nome foi dado pelos não indígenas por causa das guerras travadas por nossos ancestrais à beira desse rio. Muitos derramaram seu sangue para que hoje tivéssemos o direito de usufruir dele como nosso”, afirmou.

É essa relação de sacralidade e memória que fundamenta a oposição de sua comunidade à instalação de hidrelétricas no rio. “Para nós, é totalmente sagrado”, declarou Mara, destacando que o Owawê é vital para pesca, rituais, espiritualidade e o modo de vida tradicional de seu povo. “Significa a sobrevivência de nossa geração presente e futura, e é um respeito aos nossos antepassados.”

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Posse do Comitê – Associação dos Agricultores de Primavera do Leste – MT – Foto – Arquivo pessoal

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Sua estratégia dentro do comitê será baseada no diálogo. “Minha gestão visa representar e dar voz a toda minha etnia Xavante, através da união de nosso povo em parceria com todos os órgãos”, disse, reiterando que a posição contra as barragens é majoritária entre os Xavante.

A eleição de Mara ocorreu durante uma reestruturação do comitê. O CBH Alto Rio das Mortes foi formado a partir da ampliação do antigo CBH Covapé, o primeiro comitê de bacia de Mato Grosso, criado em 2003 para mediar um conflito por água na região de Primavera do Leste. Em julho de 2024, a resolução CEHIDRO nº 180 aprovou a expansão de sua área de atuação para toda a bacia do alto curso do Rio das Mortes, culminando no processo eleitoral de julho de 2025 que elegeu 28 entidades para o colegiado.

Ao ser questionada se continuará seu ativismo além do comitê, Mara foi enfática: “Sim, esta será mais uma forma de fortalecer nossa voz e legado em favor de minha etnia Xavante e dos povos indígenas de Mato Grosso”. Sua atuação será observada como um caso emblemático de participação indígena em instâncias de decisão ambiental no Brasil.

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